segunda-feira, 11 de julho de 2011

Trechos do livro "Manual do Ator" - Stanislavski

Olá galera! A paz do Senhor!

Segue alguns trechos de um dos livros de Constantin Stanislavski, "Manual do Ator". Muito bom!

Grande Abraço

Pedro Rois


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Trechos selecionados do livro "Manual do Ator" de Constantin Stanislavski


       As ações criam a vida física de um papel

Um papel em um espetáculo, mais do que a ação na vida real, deve ser uma fusão das duas vidas - a da ação exterior e a da ação interior - num esforço mútuo que visa a alcançar um determinado objetivo. Sintam-se, ainda que parcialmente, em seu papel, e deixem que seu papel sinta-se, ainda que parcialmente, em vocês mesmos: isso é para que vocês consigam vê-lo.

       Aqui e agora

Pensem sempre nisso na hora de interpretar um personagem: o que EU faria aqui e agora, SE na vida real, tivesse que agir em circunstâncias parecidas àquelas determinadas pelo meu papel?

       Arrebatamento interior

Um verdadeiro artista deixa-se arrebatar por tudo que acontece ao seu redor. Não se pode ser frio quando se trabalha com arte. O entusiasmo artístico é a força motriz da criatividade.

       Atitude amadorística

O pior inimigo do progresso é o preconceito. Não pode existir arte alguma sem virtuosismo, prática e técnica, tanto mais necessários quanto maior for o talento. Os amadores rejeitam a técnica numa atitude que não reflete suas convicções conscientes, mas sim e tão somente uma preguiça desenfreada. Sem um completo e profundo domínio de sua arte, o ator é incapaz de transmitir ao espectador tanto a concepção e o tema quanto o conteúdo vivo de qualquer peça. Ator, senhor de sua arte.

       Ator em seu papel

Em seu íntimo, paralelamente à linha das ações físicas, os atores possuem uma linha contínua de emoções que beiram as raias do subconsciente. Trabalhem para chegar ao ponto de assumir corretamente um novo papel, como se este fosse a sua própria vida. O ser recém-nascido criados por vocês se tornará alma de sua alma e carne de sua carne. Personagem + Ator = uma nova alma única pulsante no mundo.

       Autocrítica

Temam os seus admiradores! Aprendam a entender e a amar a verdade cruel a respeito de si próprios. Falem a respeito de sua arte somente com aqueles que podem lhes dizer a verdade. A maioria dos atores tem medo da verdade, não por serem incapazes de suportá-la, mas porque ela pode destruir, no ator, a fé que ele tem em si próprio.

       Clareza

As ações devem ser claras como as notas de um instrumento, de outra forma estarão sujeitas, tanto interior quanto exteriormente, a serem indefinidas e desprovidas de arte. O acabamento é essencial. O erro dos atores consiste em não se preocuparem com a ação em si, mas com seus resultados.

       Comunhão

Quando falarem com a pessoa com quem estiverem contracenando, aprendam a manter sua atenção fixa, até certificarem-se de que seus pensamentos penetraram no subconsciente de seu coadjuvante. Por sua vez, vocês devem aprender a assimilar, a cada vez como se fosse a primeira, as palavras e os pensamentos de seu coadjuvante, para cujas falas devem estar muito atentos, mesmo que as tenham ouvido inúmeras vezes nos ensaios e nas representações diante do público. Esta relação deve estabelecer-se cada vez que atuarem juntos e isto requer uma grande concentração de atenção, técnica e disciplina. Se um ator tem que ouvir, que haja intenção no seu ato. Se tiver que olhar para algum lugar, que use plenamente os seus olhos.

       Emoções teatrais

Emoção teatral é uma espécie de imitação artificial da periferia das sensações físicas. Ou o ator pode sentir tão intensamente a situação da pessoa num papel, que acaba colocando-se no lugar desta pessoa.

       Ensaio

Alguns atores têm o hábito intolerável de ensaiar num tom de voz baixo quando estão dizendo suas falas. Um ator é obrigado a representar plenamente o seu papel. De outra forma o ensaio perde o seu sentido. Se os atores chegarem adequadamente preparados para o ensaio (corpo, voz, intenção) estabelecer-se-á uma esplêndida atmosfera de trabalho. Só os diretores sabem quanto trabalho, inventividade, paciência, desgaste e tempo são necessários para fazer com que esses atores dotados de fraco impulso criaitvo sejam estimulados a ultrapassar os limites de seu ponto morto. Não se pode ensaiar às custas dos outros. Atores não são marionetes.

       Forças motivadoras interiores

O primeiro e mais importante mestre é o sentimento. Que, infelizmente, não é manipulável. O segundo mestre é a mente. E o terceiro é a vontade. Esses três mestres interiores são os motores que nos impelem na nossa vida psíquica na criação de um personagem.

       Imaginação

Não podemos atuar diretamente sobre as nossas emoções, mas podemos atuar diretamente sobre as nossas fantasias criadoras; por sua vez, estas estimulam nossa memória ou memória afetiva, evocando, de suas profundezas secretas, fora do alcance da consciência, elementos de emoções já experimentadas, e reagrupando-as de forma a corresponderem às imagens que surgem em nós. Em cena, nenhum passo deve ser dado sem o auxílio de sua imaginação.

       Mágico SE

Para envolver-se emocionalmente com o mundo imaginário que o ator cria numa peça, e para deixar-se envolver pela ação em cena, ele deve acreditar no que faz. Ele (ator) deve perguntar-se: "Se tudo isso fosse real, de que forma eu reagiria? O que é que eu faria?" Este Se funciona como uma alavanca que lhe permite alcançar um mundo de criatividade.

       Olhos

Quantas vezes nós, atores, estamos em cena e não vemos nada! Um olhar vazio faz com que o espectador não se concentre no palco. Não preciso dizer-lhe que o olho é o espelho da alma. O olhar vazio é o espelho de uma alma vazia. O ator precisa SUSTENTAR o seu olhar.

       Pausas nas falas

A pausa psicológica dá vida aos pensamentos. Se a ausência da pausa lógica torna a fala ininteligível, sem a pausa psicológica ela não tem vida.


       Talento

A técnica existe, sobretudo, para aqueles que possuem talento e inspiração. Quanto mais talentoso for o ator, mais ele se preocupará com a sua técnica. Em nossa arte é muito perigoso amadurecer rápido demais, sem esforços decididos.

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